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Industrialização da Construção, Economia Circular e Sustentabilidade

Alexander Yamaguti – Arquiteto Urbanista

08/Jul | Leitura 4min

Quando nos referimos à produção em escala na construção civil, a primeira referência é a indústria automobilística. Mas essa comparação possui elementos que a fazem, em parte, inadequada e desproporcional.

Comparação com a Indústria Automobilística

Construção - Automobilística

Desejar a produtividade da indústria, principalmente de montadoras, quer seja de carros, linha branca, eletrônicos, entre outros, para a construção civil implica em pressupor que o produto entregue (uma casa, loja, clínica, escritório) será repetido milhares de vezes. Entende-se que seu processo de concepção e desenvolvimento englobou inúmeros profissionais (design, engenharia, produção, marketing…) e foram realizados protótipos testados à exaustão. Isso tudo porque segundos de máquinas na linha de produção são preciosos, visto que a escala de produção está na ordem de milhares de unidades diárias.

Mas na construção civil, via de regra, entregamos o protótipo! E tampouco temos tanta automação, pelo menos por enquanto.

Diferenças na Construção Civil

Não é viável, na maioria dos casos, gerar protótipos completos antes de construir definitivamente. Mesmo quando se “enlata” a habitação, adotando uma terminologia da indústria de massa, há sempre necessidades particulares de cada projeto, quer sejam legais (uso e ocupação do solo), de acesso (implantação) e disponibilidade de materiais que impedem uma padronização a ponto de ser possível ter apenas protótipos da unidade que será repetida milhares de vezes.

Construção - Eng

Mesmo assim existe a necessidade de diferenciação do objeto arquitetônico e urbanístico impostos por condições culturais, econômicas ou comerciais. E isso é fato conhecido, a primeira ação do morador ao receber uma casa padrão, mesmo de interesse social, é diferenciá-la, em alguns casos por necessidades da própria dinâmica familiar.
Um ou dois dormitórios são insuficientes para abrigar a família e agregados, a sala vira local de trabalho além do estar social e um banheiro acaba sendo pouco para atender a demanda no início do dia. A pintura, reforma e ampliação são imperativos. Além disso há o desejo de expressar o caráter de cada um e da família, somos seres sociais com individualidades marcantes!

Impactos da Massificação

A massificação que se impõe num processo prototipado cria, além da escassez de repertório da unidade (algo indesejado pelo ser humano que busca sua identificação como indivíduo também em sua moradia), implantações de grandes condomínios com quarteirões extensos e consequentes ruas vazias. Que traz consigo agravantes, não é necessária muita dialética para entender que a falta de ocupação de áreas públicas gera insegurança.

Mas então qual o caminho para gerar edificações que atendam essa demanda diferenciada com grande produtividade?

Como qualquer ação sustentável apostamos na diversidade de soluções. Para ter diversidade acabamos entregando os “protótipos” porque torna-se impossível ter a totalidade da edificação testada a priori, nesse caso precisamos ter componentes construtivos e garantir que o processo de produção seja mais eficiente e confiável.

Cabe entender que quando citamos componente construtivo nos referimos a uma parte de um sistema, o que é diferente de elemento construtivo, que não necessariamente compõem um sistema e, por essa razão, torna seu uso quase uma adaptação.

Produção Offsite e Economia Circular

Construção Offsite

A produção “offsite” de componentes é uma alternativa que agrega a possibilidade de executar boa parte da “obra” em ambiente controlado, garantindo constância, qualidade e segurança em sua produção.

“Offsite” é um estrangeirismo que remete à pré-fabricação, execução de parte ou do todo da edificação fora de seu local de implantação.

A redução de entulho também acaba sendo uma grata consequência dessa industrialização. Os sistemas com “obra seca”, largamente utilizada na produção “offsite”, geram por si só uma redução drástica de resíduos sólidos e têm, no geral, uma pegada de carbono várias vezes menor que a construção convencional.

Utilização e Vantagens dos Containers na Construção

É raro na construção civil o reuso de materiais, mais raro ainda o reuso em sistemas de obra seca. Embora seja uma diretriz de sustentabilidade a reutilização de materiais e componentes construtivos têm limitações inerentes à própria forma como construímos as edificações, precisaríamos desmontá-las e não as demolir para utilizar seus elementos. É mais viável reutilizar componentes e elementos oriundos de outras áreas. O container marítimo, por exemplo, se encaixa nesse caso.

Embora tenha como designação o marítimo, trata-se de uma estrutura modular concebida como unidade de transporte em vários modais (rodoviário, aéreo, ferroviário além do marítimo). Com tratamento anticorrosivo e estrutura dimensionada para suportar a movimentação intensa a que se submete, tem vida útil no transporte limitada em função de corrosão, torções, amassados ou mesmo econômica por conta da viabilidade de rotas comerciais.

Para uso estático é uma estrutura superdimensionada tornando-a leve e resistente para uso na construção civil, tendo o cuidado de validar o uso de peças sem comprometimento estrutural ou contaminação para esse fim.

Economia Circular e Sustentabilidade

A partir do momento em que consideramos uma estrutura modular como parte da edificação, o mesmo passa a ser parte de um sistema construtivo. Outro aspecto interessante no uso do container marítimo para construção civil, além do reuso, é ser originalmente destinado ao transporte, mas por sua modularidade torna-se em seu novo destino um componente construtivo. Neste caso estamos nos referindo a um processo de Economia Circular.

Trata-se, portanto, de reuso de componente com baixa pegada de carbono em obras secas com produção “offsite”. Características fundamentais quando um dos objetivos é sustentabilidade.

Isso significa, na prática, que se aliam três características relevantes quando se refere ao meio ambiente dentro do ESG (“Environmental, Social and Governance”). E a edificação, sob esse aspecto, é interesse de qualquer empresa, afinal quase todas as atividades são exercidas sob algum tipo de construção, não é mesmo?

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